terça-feira, 25 de outubro de 2011

MAIS UMA SOBRE O MAGISTÉRIO E SEU TRISTE FUTURO


O ano é 2.111 - ou seja, daqui a cem anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando? A calma da pergunta revela a inocência da alma infante.
E no mesmo tom vem a resposta:
 – Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo e está chegando a hora de Jesus voltar.
 – Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas então eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, alem de dar oportunidade aos seus alunos de serem como eles, estes eram amados, não só pelo seu ensinamento mas também e principalmente pelo carinho do amor de Deus que os iluminava...
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação e aceitaram regularizar o tal de ensino NÃO PRESENCIAL, para começar a dispensar o professor, a começar pelo universitário. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados quase por conta própria. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha cara”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu só quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério, o tal ENSINO NÃO PRESENCIAL alcançava também o ensino fundamental e médio. Em seguida, os professores, agora chamados de supervisores ou moderadores, foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era dos que ainda se consideravam professores. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as  “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão etc. – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade. Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada nova ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram literalmente com eles, que foram perseguidos, aposentados no máximo com salário mínimo, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de  “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de misericórdia nos já considerados antigos, retrógados e EXTINTOS PROFESSORES.

Este texto, ao qual fizemos algumas adaptações, pertence ao professor Antonio Carlos Moreno e circula na internet desde 2009.  Mas como ele se mantém atualíssimo e de acordo com reiteradas postagens nossas sobre o assunto, com algum conhecimento de causa após 43 anos de atividades didáticas, vale repassá-lo para os nossos seguidores e leitores.

Pensar para acertar. Calar para resistir. Agir para vencer. Orar para Deus perdoar e abençoar.
 “Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a ignorância, o analfabetismo."
Derek Bok, ex-presidente da Universidade de Harward.

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