O ano é 2.111 - ou seja, daqui a cem anos - e uma conversa
entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
–
Vovô, por que o mundo está acabando? A calma da pergunta revela a inocência da
alma infante.
E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo e está chegando a hora de
Jesus voltar.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e
dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos
atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever,
se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas.
Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas então eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes
professores, que ensinavam outros professores, alem de dar oportunidade aos
seus alunos de serem como eles, estes eram amados, não só pelo seu ensinamento
mas também e principalmente pelo carinho do amor de Deus que os iluminava...
– E como foi que eles
desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos
por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio
primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas
as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de
aprovação e aceitaram regularizar o tal de ensino NÃO PRESENCIAL, para começar a
dispensar o professor, a começar pelo universitário. Assim, sabendo ou não
sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados quase por conta própria. Isso
liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados
conseguiam aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta
de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus
filhos. Estes foram ensinados a dizer
“eu
estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não
estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada
do que você ganha cara”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os
professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas
particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do
ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores,
dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. Os
professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era
destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. Além
disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na
obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer
faculdade que fosse. “Ah, eu só quero saber se isso que vocês estão ensinando
vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as
escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos
passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as
discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet,
os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais
ninguém precisou ir à escola para estudar a sério, o tal ENSINO NÃO PRESENCIAL
alcançava também o ensino fundamental e médio. Em seguida, os professores,
agora chamados de supervisores ou moderadores, foram desmoralizados. Seus
salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar
à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum
tonto dizer que a culpa era dos que ainda se consideravam professores. As
pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as
“bem sucedidas” eram políticos e empresários
que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da
televisão etc. – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para
a sociedade. Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época
longa chamada nova ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça
de mira e quase acabaram literalmente com eles, que foram perseguidos,
aposentados no máximo com salário mínimo, expulsos do país, em nome do combate
aos subversivos. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se
instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de
“educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a
aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de
misericórdia nos já considerados antigos, retrógados e EXTINTOS PROFESSORES.
Este texto, ao qual fizemos algumas adaptações, pertence ao professor Antonio
Carlos Moreno e circula na internet desde 2009.
Mas como ele se mantém atualíssimo e de acordo
com reiteradas postagens nossas sobre o assunto, com algum conhecimento de
causa após 43 anos de atividades didáticas, vale repassá-lo para os nossos seguidores
e leitores.
Pensar para acertar. Calar para resistir. Agir para
vencer. Orar para Deus perdoar e abençoar.
“Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem
de experimentar a ignorância, o analfabetismo."
Derek Bok, ex-presidente da Universidade de Harward.