quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OS OLHOS DO CORAÇÃO RENOVAM A VIDA


O parque em frente ao estacionamento estava deserto quando me sentei para ler embaixo dos longos ramos de um velho carvalho.
Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando me afundar. E como se não tivesse razão suficiente para entristecer meu dia, um garoto ofegante se chegou, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente, e disse cheio de alegria:
- Veja o que encontrei!
Na sua mão uma flor, e que visão lamentável, suas pétalas estavam caídas, já não tinha cor e estava amassada e molhada.
Querendo-me ver livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e me virei.
Mas ao invés de recuar ele se sentou ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:
-  O cheiro é ótimo, e é bonita também... Por isso a peguei; hei-la, é sua, estou te dando.
A flor à minha frente estava morta ou morrendo, sem as qualidades e cores vibrantes de sua brotação, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então me estendi para pega-la e respondi:
-        Eu aceito, muito obrigado.
Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, que não podia ver o que tinha nas mãos.
Ouvi minha voz sumir, lágrimas despontaram ao sol enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim.
-  De nada, ele sorriu.
E então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia. Sentei-me e me pus a pensar como ele conseguiu enxergar um homem auto-piedoso sob um velho carvalho.
Como ele sabia do meu sofrimento, do meu estado de melancolia tipo auto-indulgente?
Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão. Aquela de "olhos interiores" que enxergam o fundo de nossa alma... 
Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era bem ou somente o mundo cruel, injusto e impuro em que vivia. Era o meu ego, sim EU mesmo estava sendo o principal problema que me afetava.
Agora, despertado por tudo aquilo, percebendo claramente todos os momentos em que eu fui cego, agradeci por ver a beleza da vida ao meu redor e os privilégios que Deus me tinha concedido e apreciei cada segundo de tudo isso que é só meu.
E então levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela rosa, e sorri enquanto via aquele garoto, com outra flor feia e suja em suas mãos, prestes a mudar a vida de um novo e insuspeito senhor de idade tristemente sentado em outro banco...

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