quarta-feira, 19 de setembro de 2012

NO ANIVERSÁRIO DO BLOG, O DESAPOSENTADO, GERAÇÃO 5 A

Para comemorar três anos do nosso Blog (desde 19.09.2009), escolhemos no dia do acontecimento, a adaptação de um texto do cearense abaixo mencionado, conterrâneo de meu saudoso pai, para torná-lo um TESTEMUNHO PESSOAL DO CASAL do Blog.
Ele chegou à praça com uma marreta. Endireitou a estaca de uma muda de árvore e firmou batendo com a marreta. Amarrou a muda na estaca e se afastou como para olhar uma obra de arte. Não resisti a puxar conversa:
- O senhor é da prefeitura?
- Não, sou da Laura faz quarenta e dois. Minha mulher.
- Ah... O senhor quem plantou essa muda?
- Não, foi a prefeitura. Uma árvore velha caiu, plantaram essa nova de qualquer jeito, mas nós adubamos e colocamos essa estaca aí. Olha que beleza, já está toda enfolhada. De tardezinha eu venho regar, como aprendi com a minha esposa que você pode chamar de corda ou caçamba, panela ou tampa como o pessoal da cidade diz por estarmos sempre juntos, praticamente em todas as atividades.
- Então o senhor e a esposa gostam de plantas. Ele perguntou.
- De plantas, de animais e, principalmente, de gente. 
- Obrigado pela parte que me cabe...
Ele sorriu, tirou um tesourão da cinta e começou a podar um arbusto.
- O senhor é aposentado?
- Não, sou DESAPOSENTADO, não sou da terceira idade, mas sim da GERAÇÃO 5 A, como expliquei a última turma da UERJ que lecionei e depois conto para você.
Foi podando e explicando:
- Quando me aposentei, já tinha visto muito colega aposentar e murchar, que nem árvore que você poda e rega com ácido de bateria...Sabia que tem comerciante que rega árvore com ácido de bateria pra matar, pra árvore não encobrir a fachada da loja?                     Entram para a turma que bota uma bermuda e chinelo e fica em casa diante da televisão. Ou indo ao boteco pra beber cerveja, depois dormindo de tarde. “Bobando” e engordando... Até que acabam com derrame ou enfarte, de não fazer nada e ainda ficar falando de doença.
Cortou umas flores, fez um ramalhete e continuou falando:
- A minha menina, ou “menimor” como às vezes a chamo - gosto muito de inventar nomes bonitos e otimistas -  e ela fica um amor de menina quando lhe levo uma flor. Não posso dizer que minha Laurinha seja também desaposentada, pois o trabalho doméstico tão pouco reconhecido não para nunca. Somos quase da mesma idade. Ela, além de tudo isto, ajuda a turma da Hidroterapia que fazemos sem contar os irmãos da Igreja, ela tem sempre um presentinho para dar, mesmo que seja somente uma balinha.  A Laura vive ajudando todo mundo com aquela alegria espontânea que, acima de tudo, agrada a Deus, por isso não precisa de muita ajuda e não tem tempo de pensar em doença.
Amarrou o ramalhete com um ramo de grama, depositou com cuidado sobre um banco.
Já perguntaram por que cuidamos das árvores e plantas da praça e se temos autorização para fazer isto. Evitamos responder e tocar no assunto. Vamos embora antes que nos proíbam de cuidar da praça, alem da nossa casa. Ou antes que me fizessem preencher formulários em três vias com taxa e firma reconhecida, tudo para fazer o bom trabalho do desaposentado...
Tá vendo aquele pinheiro fêmea ali? A Laura que plantou. Só tinha o pinheiro macho. Agora o macho vai polinizar a fêmea e ela vai dar pinhões.
- Eu nem sabia que existe pinheiro macho e pinheiro fêmea.
- Eu também não sabia, filho. Aprendi viajando para o sul, no Paraná que é a terra dos pinhões. Hoje conhecemos os cantos dos passarinhos, as épocas de floração de cada planta, e vejo a passagem das estações como se fosse um filme! Só o que às vezes incomoda é o grito das aratacas que voam em bando aqui por nossa cidade e escolheram nosso telhado para fazer ninho.  
- Mas a árvore vai demorar pra dar pinhões, hein? - falei, olhando a pinheirinha ainda da nossa altura. Ele respondeu que não tinha pressa.
- É admirável ver como alguém com sua idade tem tanta esperança!
Ele riu:
- Se é admirável eu não sei, filho, sei que é gostoso e faz parte da nossa fé no Criador. E agora, com licença, que eu preciso pegar a Laura pra gente caminhar no meu percurso de sempre, dando uma paradinha para falar com o Cel. Hugo Ligneul e sua esposa Elis. Já ia esquecendo, apesar de estar com a memória bem treinada, de dizer porque somos GERAÇÃO 5 A. É simples, nós somos da geração A de avançado (na internet e até na idade); A de ativo; A de alegre; A de amoroso; A de abençoado.  
Vida de desaposentado é assim: o dinheiro não é muito, mas o dia pode ser comprido se a gente não perder tempo, afinal: "Tudo Deus fez formoso no seu devido tempo"! (Eclesiaste 3.11 a)

Prof. Angelo M. Moreira da Rocha – adaptado de matéria de Domingos Pellegrini, publicada na GAZETA DO POVO, Fortaleza-CE

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